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Atendimento Fraterno: o jovem pode!

Autor: Rodrigo Scalfo

A casa espírita, hoje, adquire um cunho social que vai além do assistencialismo para encontrar as bases redentoras da caridade do Cristo, que fraternalmente nos legou os exemplos mais puros e sinceros de amor para que pudéssemos, assim, tornarmo-nos irmãos. Nesse processo, o movimento jovem dentro do Espiritismo representa a força da comunhão sincera e prazerosa de trocas fluídicas de grande amizade. Entretanto, quando falamos em atendimento fraterno, parece que o assunto não encontra aderência, não só na mocidade espírita, mas também entre aqueles que estão a cargo de importante tarefa na casa.

Outro dia, eu com meus vinte e poucos anos, fui à determinada casa espírita para renovar minhas energias através do passe que ali naquele posto de socorro é oferecido todas as tardes. Em certo momento, percebi que uma senhora fora chamada de nossa conversa, pois prescindiam de sua ajuda para a realização de um atendimento. Como a curiosidade me tomava, perguntei-lhe antes que saísse, o que era e em que consistia tal atendimento. Ela sorriu e disse, entre outras palavras, que era uma conversa com o objetivo de ajudar na resolução dos conflitos das pessoas que buscavam ajuda. E olhando para mim, ainda sustentando um riso, disse que eram apenas aqueles conflitos de grande ordem, e não “coisas de jovens, como brigas com a namorada”. A responsabilidade do atendente será abordada mais abaixo.

O atendimento fraterno, junto ao arcabouço de atividades da casa espírita, é recurso de intensas possibilidades no sentido de prover o alento de que precisamos. O atendimento fraterno constitui-se em receber bem as pessoas que buscam alívio para seus problemas, orientar com segurança, esclarecendo o indivíduo de acordo com a doutrina espírita, para, a partir disso, provocar-lhe o redirecionamento de suas ideias.

Essa deve ser uma prática de amor ao próximo, vontade sincera de ajudá-lo. Mas para atender àqueles que precisam de auxílio é necessário que se tenha em mente que apenas a boa vontade não é suficiente para os trabalhos na obra renovadora de Jesus. Assim como em qualquer coisa que façamos, qualquer que seja nossa profissão, precisamos de preparo e capacitação para exercê-la, o que obtemos através de estudo e disciplina. É certo que o trabalho edificante demanda doação e ímpeto para o bem do próximo, mas deve estar aliado ao conhecimento e a ação, prerrogativa do próprio Espiritismo, uma vez que atribui o processo incessante de evolução do ser, tanto ao desenvolvimento moral, quanto ao intelectual, como se fôssemos trabalhando a construção de dois pilares que devem ser erguidos juntos.

Nesse sentido, atentamos para a responsabilidade do atendente, quem estabelecerá o contato direto com a pessoa a ser ajudada, conduzindo a entrevista. Ele precisa de seriedade, disciplina e preparo para a tarefa de conferir equilíbrio espiritual ao irmão em aflição. Divaldo Pereira Franco, conhecido orador e propagador da doutrina espírita, junto com o espírito Manoel Philomeno de Miranda, esclarecem sobre o tema e apresentam alguns pontos que o atendente, ou entrevistador, deve ter como característica para que um bom atendimento possa ser realizado. Um deles é ter boa moral, que além de estar ligada à prática da prece, para o fortalecimento de si próprio, também se refere a ter o interesse fraternal pelas pessoas, gostar de se relacionar e estar em sociedade, ter equilíbrio moral, e saber ajudar-se, ter maturidade.  O conhecimento sobre a doutrina é fundamental, principalmente no que diz respeito à codificação, pois foi a partir da compilação de Kardec que o Espiritismo tomou forma. Além disso, valer-se apenas do empirismo pode levar a práticas e direcionamentos errôneos e causar a intensificação dos distúrbios que as pessoas já apresentam. Outra característica importante é ter bom tato psicológico. Divaldo P. Franco diz que as pessoas têm necessidade de falar, e na falta de respostas para seus problemas elas prescindem de alguém que as ouçam apenas. Nesse sentido, o tato psicológico por parte do atendente possibilita essa oportunidade para que a pessoa liberte-se do conflito, ouvindo-a com cautela e tolerância.

O atendente, dessa maneira, tem papel fundamental através de sua conduta de retidão, até mesmo para estabelecer confiança com o assistido, mas tais características vão além, porque devemos nos lembrar de que somos apenas instrumentos para o trabalho maior e é através do nosso equilíbrio que poderemos estar mais próximos e receptivos à influência dos benfeitores da espiritualidade para um melhor atendimento em sua totalidade.

Jesus não carregava o fardo das pessoas, mas as ensinava a conduzir suas dificuldades. É importante salientar que o atendimento fraterno deve levar o indivíduo à compreensão de si mesmo, e não a respostas ou receitas prontas que irão solucionar todos os seus conflitos. Por isso, é imperioso o discernimento para conduzir o atendimento de modo que o atendente não se deixe conduzir ou ser induzido pelo atendido. Ouvir os problemas que aquele irmão quer compartilhar, com tolerância, não quer dizer concordar com o erro, mas compreender. Divaldo P. Franco assevera que “O Atendimento Fraterno não é um confessionário. Como o próprio nome diz, é um encontro no qual se atende fraternalmente àquele que tem qualquer tipo de carência. Com tato psicológico pode-se desviar, no momento oportuno, uma questão que seja inconveniente (...)”.

De acordo com cada caso, orienta-se o indivíduo a reuniões públicas da casa ou a leitura de obras espíritas, por exemplo. Se necessário, recorre-se a atividades mediúnicas da casa. Geralmente, das orientações segue-se o tratamento através dos passes e da água “fluidificada”, considerando os devidos retornos que a pessoa deve fazer para dar continuidade ao trabalho de fortalecimento e gradativa mudança de percepção rumo à reforma de conduta. Apresentar as atividades da casa, como reuniões públicas, cursos sobre a doutrina, bem como oportunidade de trabalhos para a prática da caridade, é salutar, entretanto não devemos impor o Espiritismo aos que buscam conforto em seus braços, senão mostrar-lhes que são bem-vindos em quaisquer oportunidades.

A esse ponto, chamo a atenção para um detalhe: é claro que o preparo e discernimento, aliados a maturidade e autocontrole são primordiais para o atendimento fraterno. Porém, o que o jovem espírita pode fazer então quando aqueles que estão em aflito o procuram?

É simples: podem prestar um atendimento fraterno, oferecer sua atenção para o que, muitas vezes, é um desabafo. A juventude que ora nos brinda, não é sinônimo de inexperiência ou motivo de subestimação, é necessário o estudo e disciplina em todas as etapas, físicas ou espirituais. As virtudes são conquistadas de acordo com os passos que damos, com o comprometimento que temos com a prática da caridade, com as obras em que efetivamente trabalhamos. Mas também é importante ter a consciência das limitações do atual grau de conhecimento a cerca da doutrina e do próprio comportamento humano. Assim, podemos ouvir o amigo com o carinho e a tolerância que Manoel Philomeno de Miranda nos pede e, com discernimento, convidá-lo ao atendimento mais abrangente da casa espírita, onde estaremos sob o auspício da espiritualidade maior que poderá conduzir a melhor ajuda de que necessita.  


Créditos:
Federação Espírita do Paraná. Como fazer: Atendimento Fraterno. 1999. Acesso em 20/02/2013. Disponível aqui.
Franco, Divaldo P. Atendimento Fraterno. 2013. Pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda. Disponível aqui.
Simoes, Vanda. Atendimento Fraterno. 2013. Disponível aqui.
Atendimento Fraterno: o jovem pode! Reviewed by Unknown on 11:35 Rating: 5

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