O Espiritismo e a Bíblia

Autor: Wladimir Miranda

            Para falar do Espiritismo e da Bíblia Sagrada, coletânea de livros que todo cristão reconhece como de alto valor, nós poderíamos justificar ser, a Doutrina Espírita, correta e “do bem”, com base em passagens bíblicas que mostram a mediunidade, a crença na reencarnação e outros assuntos pertinentes à Doutrina.

            Por outro lado, também poderíamos abominar e criticar o Espiritismo com base em passagens bíblicas supostamente contrárias à mediunidade, a reencarnação, etc. Para ambos os casos já existem vários artigos, estudos e livros, basta uma simples busca no Google que os encontraremos para todos os gostos.

            Diante desse impasse, entre a justificação e a abominação, vemos como único modo de resolvê-lo o uso da coerência e do bom senso, mantendo como premissa a ideia do que esperamos de um Deus justo, bom e misericordioso, uma vez que a injustiça, a maldade e a crueldade são frutos da imperfeição, coisas que o Todo Perfeito com certeza não o é.

            Então, dentro desse raciocínio, concluímos que, por exemplo, Deus jamais proibiria os nossos entes queridos desencarnados de vir até nós matarem a recíproca saudade, pois é algo que faz bem a nós e a eles; concluímos que sem a existência da reencarnação as desigualdades entre as pessoas (em qualquer ângulo considerado), representariam injustiças do Criador, em punir uns e contemplar outros, sem motivo algum; dentre outras conclusões respaldadas pela Bíblia e pelo bom senso.

            Pensando dessa forma vamos entender que os textos bíblicos não são algo a parte em relação ao Espiritismo, eles não estão dissociados, como algumas pessoas querem parecer que seja.

            Não devemos procurar o Espiritismo na Bíblia como quem procura algo de coincidente em materiais dessemelhantes, tal como faria, por exemplo, quem procurasse os aspectos coincidentes da legislação civil brasileira com a legislação civil da Coreia do Norte, que com certeza nada tem a ver com a nossa.

            Isso porque o Espiritismo, tal como consta em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em seu capítulo 6, é o “Consolador Prometido por Jesus”, a Terceira Revelação de Deus para a humanidade, que veio reviver o Evangelho do Cristo, de uma forma clara, precisa e livre das deturpações que o atingiram ao longo dos séculos.

            Assim sendo, vemos que se o Velho Testamento é o preparo filosófico-teórico para o Novo Testamento (principalmente para o Evangelho), não havendo entre um e outro solução de continuidade – malgrado algumas discordâncias, justificáveis pela ocorrência de erros nas traduções, pela falibilidade humana dos próprios profetas, etc. -, mas sim complementação; vemos também que com o Espiritismo em relação ao Evangelho ocorre semelhante fenômeno, vez que aquele vem, em cumprimento à missão de ser o Consolador Prometido, reviver o que já está contido nos livros da Boa Nova e ensinar coisas que Jesus, no seu tempo, não pode mais do que fazer ligeiros apontamentos, uma vez que as pessoas daquela época não O entenderiam.

            É como se os planos do Alto, traçados pelo próprio Cristo (governador do nosso planeta), fossem o de primeiro nos preparar para a lição, depois passar a lição e por fim revisar esta lição e um pouco mais aprofundá-la.

            A Doutrina Espírita, portanto, é, com toda a certeza, a legítima volta do Evangelho, puro e imaculado, livre dos enxertos mundanos que a humanidade nele tentou colocar ao longo dos séculos, trazendo-nos Jesus de volta, amigo, companheiro, mestre e terapeuta, nos apresentando o amor como solução para os nossos conflitos da alma, como terapêutica adequada à verdadeira mudança dos sentimentos.

            Não é sem fundamento que Allan Kardec escreveu:

O Espiritismo bem compreendido, mas, sobretudo bem sentido, conduz forçosamente aos resultados acima, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o verdadeiro cristão, pois um e outro são a mesma coisa. O Espiritismo não cria uma nova moral, mas facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo [...]

            O que hoje chamamos de Espiritismo é nada mais do que a “Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria”, ensinada por Jesus (que não criou nenhum rótulo religioso), para a qual todo segmento religioso da Terra um dia evoluirá, tendo como bandeira maior a recomendação da vivência do bem, da solidariedade e do amor ao próximo como meios mais eficazes para o nosso progresso espiritual, ou seja, para a construção do Reino de Deus em nós, nos corações humanos, trabalho esse que Jesus iniciou desde que Ele assumiu a presidência do nosso planeta (nos primórdios da criação), no comprometimento de nos conduzir a redenção individual e coletiva e a consecução da felicidade íntima e geral.

            Assim sendo, não vamos mais tentar achar controvérsias inexistentes no Espiritismo, porque ele é a Bíblia, mais especificamente, ele é o Evangelho que volta, coerente, claro e preciso, a fim de que seja por nós vivenciado.

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KARDEC, ALLAN, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 1.

Op. cit., cap. 17.

LUIZ, ANDRÉ (psicografia de Chico Xavier), “Nos Domínios da Mediunidade”, cap. 1.