Além de Nós

“De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar-se é o egoísmo, porque ele se prende à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pode se libertar (...)”

(Questão 917 do Livro dos Espíritos)

Se observarmos bem no nosso dia a dia, verificaremos o quanto isso é verdade: Como é difícil não sermos egoístas. Em simples atitudes presenciamos essa chaga moral da nossa sociedade. Numa simples conversa amiga com alguém próximo estamos sempre preocupados se a resposta ou opinião do outro irá atingir o nosso ego. Um simples ato de bondade não correspondido gera um profundo aborrecimento, como se esse ato de bondade, fosse, na verdade, uma troca.

Nossos sentimentos são o centro do universo. Isso é o egoísmo! Pensar que as nossas dores são as maiores do mundo, que nossas opiniões são as únicas opiniões corretas, que todas as pessoas devem nos reverenciar é ir contra todos os princípios da caridade.

Temos medo, eu sei. Medo de pensar no próximo, e o próximo só pensar em si. É esse o principal motivo do egoísmo, como cita FÉNELON na mesma questão 917: “É o choque que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o torna, frequentemente, egoísta, porque sente a necessidade de se colocar na defensiva. Vendo que os outros pensam em si mesmos e não nele, é conduzido a se ocupar de si mais do que dos outros”.

Mas chegará um dia em que perceberemos que a ganância de querer sempre mais riquezas materiais, e o egoísmo que nos faz acreditar que somos os seres mais importantes não terão sentido. Um dia olharemos para tudo que está a nossa volta e enxergaremos as coisas como coisas, úteis para nosso aprendizado e outras inúteis, e as pessoas como seres tão importantes quanto nós. Iguais a nós em sentimentos, dores, sofrimentos, dúvidas, apenas iguais... Não ameaças a nossa individualidade, ou nosso ego, apenas pessoas. Nesse dia entenderemos a caridade.

Até esse dia chegar, podemos ter algumas atitudes que farão a diferença para um mundo menos egoísta: ouça as pessoas, mesmo aquelas que não têm a mesma opinião que a sua, às vezes elas só precisam falar; quando quiser fazer algo que só irá lhe beneficiar pense se poderá prejudicar alguém; em regra use a máxima do Mestre Jesus: “E assim, tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também, vós a eles.” (Mateus, XXII: 7:12).

Referências:

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec; tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 178ª edição, 2008.

O Evangelho Segundo o Espiritismo: Contendo a explicação das máximas de Jesus Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas situações da vida. Allan Kardec; tradução de J. Herculano Pires 68ª edição. São Paulo – LAKE, 2012. (Capítulo XI, Amar ao próximo como a si mesmo)