O Materialismo - Parte II
Retucci Jerônimo
"Conta-se que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes
orientava, no Rio, uma reunião de estudos espíritas, com a palavra livre para
todos os circunstantes, quando, após comentários diversos, perguntou se mais
alguém desejava expressar-se nos temas da noite.
Somente o Espiritismo, bem entendido e bem
compreendido, pode remediar esse estado de coisas e tornar-se, conforme
disseram os Espíritos, a grande alavanca da transformação da Humanidade. A
experiência sobre as coisas da vida deve esclarecer-nos e servir-nos de guia
sobre o caminho a seguir.
Para ilustramos bem a questão do Espiritismo em
relação ao materialismo, recordemos do diálogo entre Bezerra e um materialista
em que ambos comentam sobre essas diferenças de visão sobre a vida, sob um foco
absolutamente prático - o do resultado; ou seja, onde é que aquilo em que
acreditamos nos conduz.
Foi então que renomado materialista, seu amigo
pessoal, lhe dirigiu veemente provocação:
- Bezerra, continuo ateu e, não somente por meus colegas
mas também por mim, venho convidá-lo a debate público, a fim provarmos a
inexpugnabilidade de Materialismo contra as pretensões do Espiritismo. E
previno a você que o Materialismo já levantou extensa lista de médiuns
fraudulentos; de chamados sensitivos que reconheceram os seus próprios enganos
e desertaram das fileiras espíritas; dos que largaram em tempo o suposto
desenvolvimento das forças psíquicas e fizeram declarações, quanto às mentiras
piedosas de que se viram envoltos; dos ilusionistas que operam em nome de
poderes imaginários da mente; e, com essa relação, apresentaremos outro rol de
nomes que o Materialismo já reuniu, os nomes dos experimentadores que
demonstraram a inexistência da comunicação com os mortos; dos sábios que não
puderam verificar as fictícias ocorrências da mediunidade; dos observadores
desencantados de qualquer testemunho da sobrevivência; e dos estudiosos
ludibriados por vasta súcia de espertalhões... Esperamos que você e os
espíritas aceitem o repto.
Bezerra concentrou-se em preces, alguns instantes,
e, em seguida, respondeu, aliando energia e brandura:
- Aceitamos o desafio, mas tragam também ao debate
aqueles que o Materialismo tenha soerguido moralmente no mundo; os malfeitores
que ele tenha regenerado para a dignidade humana; os infelizes aos quais haja
devolvido o ânimo de viver; os doentes da alma que tenha arrebatado às
fronteiras da loucura; as vítimas de tentações escabrosas que haja restituído à
paz do coração; as mulheres infortunadas que terá arrancado ao desequilíbrio;
os irmãos desditosos de quem a morte roubou os entes mais caros, a cujo sentimento
enregelado na dor terá estendido o calor da esperança; as viúvas e os órfãos,
cujas energias terá escorado; para os caluniados aos quais terá ensinado o
perdão das afrontas; os que foram prejudicados por atos de selvageria social
mascarados de legalidade, a quem haverá proporcionado sustentação para que
olvidem os ultrajes recebidos; os acusados injustamente, de cujo espírito
rebelado terá subtraído o fel da revolta, substituindo-o pelo bálsamo da
tolerância; os companheiros da Humanidade que vieram do berço cegos ou
mutilados, enfermos ou paralíticos, aos quais terá tranquilizado com princípios
de justiça, para que aceitem pacificamente o quinhão de lágrimas que o mundo
lhes reservou; os pais incompreendidos a quem deu força e compreensão para
abençoarem os filhos ingratos e os filhos abandonados por aqueles mesmos que
lhes deram a existência, aos quais auxiliou para continuarem honrando e amando
os pais insensíveis que os atiraram em desprezo e desvalimento; os tristes que
haja imunizado contra o suicídio; os que foram perseguidos sem causa aparente,
cujo pranto terá enxugado nas longas noites de solidão e vigília, afastando-os
da vingança e da criminalidade; os caídos de toda as procedências, a cujo
martírio tenha ofertado apoio para que se levantem...
Nesse ponto da resposta, o velho lidador fez uma
pausa, limpou as lágrimas que lhe deslizavam no rosto e terminou:
- Ah! Meu amigo, meu amigo!... Se vocês puderem trazer
um só dos desventurados do mundo, a quem o Materialismo terá dado socorro moral
para que se liberte do cipoal do sofrimento, nós, os espíritas, aceitaremos o
repto.
Profundo silêncio caiu na pequena assembleia, e,
porque o autor da proposição baixasse a cabeça, Bezerra, em prece comovente,
agradeceu a Deus as bênçãos da fé e encerrou a sessão.”
Créditos:
LIVRO
“ESTANTE DA VIDA” – psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ditado pelo Espirito “Irmão X”.
– Uberaba,
1969.
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